466 anos de São Paulo: migração nordestina fomenta agricultura urbana na Capital

Agricultoras nordestinas produzem alimentos de forma sustentável na zona leste de SP.

O Protocolo de Transição Agroecológico auxilia na venda dos alimentos. Foto: Daniel Guimarães

“São Paulo é terra boa, costumam chamá-la de terra da garoa, é acolhedora, tem braços fortes e um coração grande. É tão imensa a gratidão que tenho à ela, que fico até sem palavras para me expressar. São Paulo foi meu grande sonho e hoje é minha realidade, minha vida e cultura. Hoje eu me sinto, não uma nordestina, mas sim uma paulistana, não desfazendo de minha origem, mas sim agradecendo o acolhimento que tive nesta cidade grande”, contou Joelma Marcelina dos Santos, agricultora urbana da zona leste de São Paulo.

Neste dia 25 de janeiro o município de São Paulo completa 466 anos e, nesta data, vale recordar que a migração nordestina foi fundamental para o desenvolvimento da metrópole no século XX.

O processo migratório teve inicio na década de 30, quando o Governo do Estado de São Paulo estimulou a vinda de trabalhadores para as lavouras de café paulistas. O ápice do êxodo se deu nos anos 60, por conta das baixas condições financeiras dos nordestinos e pela necessidade de mão de obra em São Paulo para o desenvolvimento da metrópole. Nesta época, registrou-se aumento de 56,6% da população na Capital.

Joelma Marcelina é agricultora urbana na cidade de SP. Foto: Daniel Guimarães

Mesmo após o período com alta taxa de migração, os nordestinos continuaram a praticar o êxodo rural e vinham para capital paulista em busca de melhores condições de vida. Um exemplo é o da baiana Joelma, que nasceu no dia 16 de fevereiro de 1973 e foi criada em uma casa de pau a pique em Pimenteira, uma cidade do município de Ilhéus localizada no sul da Bahia, a cerca de 350 km de Salvador. A família dela ganhava o sustento por meio da agricultura, lá trabalhavam em plantações de cacau, café, mandioca, entre outros produtos.

Desde criança, Joelma teve contato com a terra e nunca se esquece de quando seus tios iam para o campo colher mandioca para fazer farinha. “Eu era tão grande que cabia no cesto, eles me levavam para a roça e colocavam um pano debaixo de uma sombrinha e eu brincava enquanto eles trabalhavam. Eu, muito curiosa, ia para o meio das plantações e meus tios ficavam preocupados comigo, pois era a primeira sobrinha deles.”

Conforme o tempo foi passando, a baiana aprendia com sua avó, Arlinda Maria de Jesus, as técnicas para produzir alimentos. Arlinda não utilizava defensivos agrícolas em sua plantação de cacau, bem por isso penava com as perdas que a vassoura de bruxa (praga do cacau) causava à produção. A avó também fazia compostagem, juntando os galhos podados e folhas caídas, esperava até os materiais se decomporem para utilizar na terra.

A produtora trabalha com cultivo agroflorestal, produção de alimentos que se localiza entre árvores.
Agricultura Urbana

“Muitas coisas do que eu sei hoje foi minha avó que me ensinou durante minha infância”, comentou Joelma. A nordestina de 46 anos trabalha como agricultora junto às Mulheres do GAU (Grupo de Agricultura Urbana), que é formado por migrantes da Bahia e Pernambuco, no Viveiro-Escola da União de Vila Nova localizado em São Miguel Paulista, na zona leste da Capital.

Sede do Grupo de Agricultura Urbana, o Viveiro Escola. Foto: Daniel Guimarães

O Viveiro foi implantado em 2009, sendo parte do Programa de Urbanização Integrada do Projeto Pantanal da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), por conta das necessidades de recuperação ambiental da área e revegetação dos espaços degradados. Para transformar o espaço urbano da região em um ambiente menos árido foram aplicadas atividades de educação ambiental para formar viveiristas e paisagistas comunitários, que hoje atuam na revitalização das margens de rios e locais onde era depositado lixo.

Atualmente, o Viveiro–Escola sedia o Grupo de Agricultura Urbana (GAU) em uma estufa, onde a Cooperativa de Reciclagem Nova Esperança atuava até ganhar um galpão para fazer o trabalho de coleta e triagem dos resíduos. As mulheres do GAU trabalham como agricultoras desenvolvendo a manutenção do local por meio de plantio, cultivo, colheita e manejo agroflorestal. No Viveiro também são realizadas oficinas de formação e sensibilização ambiental, com temas como manejo de horta comunitária, bioconstrução e aproveitamento de alimentos.

Hoje em dia, Joelma utiliza os ensinamentos de sua avó na produção do viveiro. “Em nosso plantio nós não utilizamos nenhum tipo de defensivo químico, nem os adubos recomendados para produção de orgânicos, utilizamos nosso adubo, que é feito com resíduos orgânicos, por exemplo, de verduras, legumes e poda. Também fazemos a preparação do solo e o plantio em circulo”, explicou a produtora.

Por conta de suas práticas sustentáveis na estufa do viveiro na produção de alimentos como alface, rúcula, banana, manga, e Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC’s) como o peixinho, as agricultoras do GAU receberam o Protocolo de Transição Agroecológica da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo no ano de 2019.

Atualmente, 231 produtores estão no processo de transição agroecológica no Estado, sendo que 35 deles estão na cidade de São Paulo, onde, inclusive, foi emitido o primeiro protocolo, em 2016.

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