Turismo a 100 dias da Olimpíada Rio 2016

Preparativos, desafios e perspectivas dos megaeventos são o tema de entrevista com o ministro do Turismo, Alessandro Teixeira.

Ministro do Turismo, Alessandro Teixeira. (Foto: Paulino Menezes/ASCOM)
 
A 100 dias da Olimpíada, o recém-empossado ministro do Turismo, Alessandro Teixeira falou com a Agência de Notícias do Turismo. A entrevista abordou temas polêmicos como o eventual impacto da crise política e do surto de Zika Vírus às vésperas da Olimpíada e Paraolimpíada. O ministro aponta o turismo como uma alternativa para o Brasil retomar o desenvolvimento da economia

ANT: O Brasil está preparado para receber a Olimpíada e Paraolimpíada?

AT: Os governos federal, estadual e municipal do Rio de Janeiro têm se esforçado para organizar um evento memorável. Posso afirmar tranquilamente que o Brasil realizará um dos melhores jogos olímpicos de todos os tempos pela experiência acumulada em diversos eventos com públicos distintos. Estou falando da Rio+20, Jornada Mundial da Juventude, primeiro contato com o grande público do Papa Francisco, Copa do Mundo e a Fórmula 1, sendo as últimas duas edições das provas de automobilismo consideradas as mais bem organizadas de todo o campeonato numa eleição entre pilotos e equipes, um público altamente exigente.    

ANT: A instabilidade política do país e troca em importantes pastas ministeriais como o próprio Ministério do Turismo não prejudica a realização dos jogos?

AT: Os principais emissores do mundo já passaram por momentos de acomodação política e sabem que esse é um processo natural nas democracias. Realizamos a Copa das Confederações em meio a diversos protestos de grandes proporções e não registramos nenhuma ocorrência de destaque, nenhum incidente que maculasse a imagem do país. Pelo contrário, reforçamos a nossa reputação de país acolhedor, com uma cultura diversa e natureza extraordinária, reconhecida pelo Fórum Econômico Mundial como a número 1 do mundo. Em uma pesquisa feita na ocasião, 9 em cada 10 turistas aprovaram a experiência no Brasil.

Quanto à troca no comando do Ministério do Turismo, tenho certeza de que se houver algum impacto na realização de jogos, ele será positivo. Devemos lembrar que às vésperas da Copa do Mundo, a pasta ministerial passou das mãos dos ex-ministros Gastão Vieira para Vinicius Lages. O fato só comprova que o MTur tem um corpo técnico competente e uma agenda sólida, como pude comprovar nos primeiros contatos com os colaboradores. Chego para agregar. 

ANT: Como o senhor pretende ajudar contribuir para as preparações dos Jogos Olímpicos e o turismo? 

AT: Vim da área econômica. Nas presidências da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e da Associação Mundial das Agências de Promoção de Investimentos tive um contato muito próximo com o setor produtivo. Nas secretarias-executivas do Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) também tive uma interlocução estreita com empresários de diversos setores. Acredito que o turismo tem muito a ganhar com a profissionalização da relação entre o mercado e o governo com foco na construção de um ambiente de negócios favorável para o investimento, se construirmos junto uma agenda de desenvolvimento econômico por meio do setor de viagens. Esse é o desafio e os Jogos Olímpicos nos darão um impulso especial para alcança-lo. 

ANT: Os surtos de Zika Vírus e, mais recentemente, H1N1, não afetam a Olimpíada e Paraolimpíada?

AT: O Ministério do Turismo, em conformidade com as orientações do Ministério da Saúde e das declarações e da Organização Mundial da Saúde (OMS), reitera que não há restrição de viagens para regiões com transmissão do vírus Zika. O Governo Federal, em parceria com estados e municípios, adotou diversas medidas que visam proteger não só os brasileiros, mas também os estrangeiros que vierem ao país para os jogos olímpicos. Cabe ressaltar que o período em que serão realizados os Jogos Olímpicos e Paralímpicos é considerado não endêmico para transmissão de doenças causadas pelo Aedes aegypti, como zika, dengue e chikungunya. Em 2015, agosto foi o mês com menor incidência de casos de dengue no país.

Para esclarecimento aos turistas, o Ministério do Turismo disponibiliza em sua página na internet informações sobre saúde do viajante. O conteúdo, disponível nos idiomas português, inglês, espanhol e francês é produzido e atualizado constantemente pelo Ministério da Saúde. As redes sociais da pasta também estão engajadas para levar mais informações sobre o assunto para os usuários, com produção de conteúdo próprio sobre o tema e compartilhamento de publicações do Ministério da Saúde. 

Para o combate ao H1N1, o governo federal está realizando uma grande campanha de vacinação gratuita. Serão imunizadas crianças de 6 meses a 5 anos, gestantes, idosos, profissionais da saúde, povos indígenas e pessoas portadoras de doenças crônicas ou outras doenças que comprometam a imunidade.

ANT: O que o Brasil tem feito para promover o megaevento, atrair mais turistas internacionais, estimular o turismo doméstico e otimizar o ganho do país com os jogos nesse contexto de recessão econômica que o país vive?

AT: Os megaeventos têm sido o principal mote da participação do Brasil nas maiores feiras de turismo do mundo e outros eventos internacionais desde 2015. O então Ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, participou de uma intensa agenda internacional com ações de relações públicas sempre com o objetivo de convidar agentes e operadores de viagem, autoridades e o público final para participar da Olimpíada e Paralimpíada 2016. O tema foi tratado em missões oficiais para os EUA, Croácia, Itália, Polônia e Rússia, Londres, Espanha, Portugal e França.  

Além disso, temos investido no relacionamento com a imprensa internacional para convidar o mundo a participar da Olimpíada e Paralimpíada 2016, por meio da mídia espontânea. Nesse sentido foram publicados artigos do ministro Henrique Eduardo Alves no Huffington Post nos EUA, El Pais – versão mundial e espanhola, e o Público, em Portugal. A Embratur também tem realizado press trips em parceria com a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, ações promocionais junto com o Ministério das Relações Exteriores nas embaixadas de países estratégicos e trabalha nas redes sociais para atrair o público final para o maior evento do mundo. A lógica que impera é fazer mais com menos, por isso o uso das redes sociais e da mídia espontânea. 

A próxima etapa inclui a divulgação de campanhas de marketing nos países beneficiados com a isenção de vistos de 1º de junho a 18 de setembro: Canadá, EUA, Japão e Austrália. 

ANT: Qual a expectativa do turismo com os Jogos Olímpicos e Paralímpicos?

AT: O Brasil deve receber até 500 mil turistas estrangeiros no período dos jogos Olímpicos e Paralímpicos. É importante ressaltar que, para além da atração de turistas internacionais, os megaeventos expõem o Brasil para o mercado mundial. As competições acabam, mas o ganho de imagem permanece. Temos de lembrar que teremos, de acordo com o Comitê Olímpico Internacional, 25 mil profissionais de mídia projetando imagens do Brasil para todo o mundo. 

ANT: Essa expectativa inclui o incremento que pode ser gerado com a isenção de vistos para Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália? 

AT: Sim. De acordo com a Organização Mundial do Turismo, a facilitação de viagens pode gerar um aumento de até 20% no fluxo entre os destinos. Se fizermos as contas, a isenção de visto para essas quatro nacionalidades pode gerar um acréscimo aproximado de 75 mil turistas internacionais e a injeção de US$ 80 milhões naeconomia brasileira. 

ANT: Os ganhos com os megaeventos, ficarão restritos ao Rio de Janeiro? 

AT: O desafio do governo federal é nacionalizar o evento. Temos no revezamento da tocha a principal oportunidade para projetar destinos de todas as regiões e estados brasileiros para o mundo. A chama olímpica irá percorrer 20 mil quilômetros por estradas e ruas brasileiras e mais 10 mil milhas aéreas. Nesse roteiro, que será transmitido para todo o planeta, mais de 300 cidades irão revelar sua gastronomia, cultura e belezas naturais. 

ANT: A Olimpíada encerra um ciclo de megaeventos. E depois, quais as ações previstas para manter o turismo aquecido e o Brasil entre os destinos desejados no mundo?

AT: A exemplo do que ocorreu na Espanha, em Portugal e até nos Estados Unidos, o turismo tem tudo para ajudar o Brasil a fazer frente à crise econômica. Para isso temos enfrentado os principais gargalos do setor: como qualificação, infraestrutura e sinalização. Atualmente 4,3 mil municípios são beneficiados com obras de infraestrutura turística, num valor total de quase R$ 9 bilhões. Mas é preciso mais. Temos de enfrentar gargalos históricos do setor, melhorar o ambiente de negócios no país para permitir que o mercado desenvolva todas as potencialidades do setor. Nesse sentido, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves apresentou à Casa Civil um projeto de lei que cria áreas especiais de interesse turístico, locais com licenciamento diferenciado e crédito facilitado para o investidor. Os marcos regulatórios do setor como a própria Lei Geral do Turismo também precisam ser atualizados. Só assim conseguiremos aproveitar todas as nossas vantagens e gerar emprego e renda. 

ANT: Mesmo no ano da Copa Mundo, o Brasil recebeu menos de 6,5 milhões de turistas internacionais e faturou menos de US$ 7 bilhões com o setor. Os dados não são pequenos diante das potencialidades do país?

AT: Sim, com certeza. Os valores são irrisórios perto do nosso potencial. O México, por exemplo, fatura US$ 17 bilhões com o turismo, sendo que Cancun, responde por US$ 11 bilhões, mais que o Brasil. Para conseguirmos alavancar tanto o quantitativo de turistas que recebemos quanto o montante deixado pelo visitante internacional, temos de olhar o setor de turismo com mais atenção. Ampliar os investimentos em promoção internacional para aumentar a vida útil da mídia espontânea conquistada na Olimpíada e colocar em definitivo o Brasil na lista de desejos dos principais emissores de turistas do mundo. Para usar novamente o exemplo do México, o investimento em promoção internacional daquele país é de US$ 490 milhões, enquanto o Brasil destina menos de US$ 20 milhões para a mesma finalidade. É preciso entender que a promoção internacional é um investimento, não gasto. Tem diversos estudos que indicam que para cada US$ 1 destinado para divulgar determinado destino outros US$ 4 retornam para ele. 

Ouça áudio / download (mp3) em que o ministro Alessandro Teixeira frisa a importância da Olimpíada e do revezamento da tocha para a projeção do país.

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