Projeto Z lança videoclipe de animação e canções compostas por Leo Fressato, inspiradas na obra do dramaturgo gaúcho Qorpo Santo

Trabalho faz parte do projeto Qorpo Santo 3 Linguagens, contemplado na edição de 2014 do edital Rumos Itaú Cultural, que conta ainda com espetáculo teatral e mais dois videoclipes.
Trabalho faz parte do projeto Qorpo Santo 3 Linguagens, contemplado na edição de 2014 do edital Rumos Itaú Cultural, que conta ainda com espetáculo teatral e mais dois videoclipes.


O selo de produções artísticas Projeto Z lança nesta quinta-feira em seu site e em suas páginas nas redes sociais o videoclipe em animação Duas Páginas em Branco e o álbum Seis Mezes de Huma Enfermidade. As canções e a animação fazem parte do projeto Qorpo Santo 3 Linguagens, um dos cinco paranaenses aprovado entre mais de 15 mil inscritos na última edição do Rumos Itaú Cultural. O trabalho visa à divulgação da obra do autor gaúcho José Joaquim de Campos Leão – o Qorpo Santo por meio do espetáculo teatral Amanhã Sou Outro (ou a arte de tudo quebrar e nada endireitar), da trilha sonora compilada no álbum acima e de três videoclipes. A proposta é tornar a obra de Qorpo Santo acessível com produtos culturais de linguagens diferentes, mas interligados. A trilha sonora está disponível para download e streaming no site do projeto, em www.qorposanto3linguagens.com.br/trilha e o videoclipe emwww.qorposanto3linguagens.com.br/videoclipes
 
Com sete canções, Seis Mezes de Huma Enfermidade coloca em prática o que Qorpo Santo propunha em seus textos com pequenos versos/letras de música pelos quais, normalmente, resumia o conteúdo discutido no texto. Compostas por Leo Fressato e arranjadas pelo músico e produto Rodrigo Lemos (atualmente na banda Lemoskine e ex guitarrista da Banda Mais Bonita da cidade), as músicas dialogam diretamente com o espetáculo teatral, que é permeado pela dualidade entre moral e liberdade e traz reflexões socioculturais e políticas, bem como questões de gênero, como o feminismo e a homofobia. Esse diálogo foi intensificado com a participação de Leo no elenco e no processo de construção dramatúrgica da montagem. Além da obra teatral, a pesquisa sobre linguagem e proposta de reforma gramatical de Qorpo Santo também foram inspiração para uma das canções, Eu Sou Vida; Eu Não Sou Morte, tem uma das letras existentes nas peças do gaúcho traduzida para o francês. Os arranjos combinam referências pessoais dos compositores e seguem uma linha que parte de duas vias de convergência: a canção clássica brasileira e estilos pop, com influência do hip hop.
 
Duas Páginas em Branco foi a faixa escolhida para o videoclipe de animação cujo roteiro é baseado na ideia de degradação e impermanência, não apenas filosófica, mas também corporal, como acontece em uma das peças do autor. Essa significação foi ampliada no roteiro da animação, na qual o próprio ambiente/cidade em volta da personagem, bem como a própria personagem, se dissolve. 
 
Seis Mezes de Huma Enfermidade – Faixa a Faixa
 
Duas Páginas em Branco: Com letra de Qorpo Santo, essa canção vem em tamanho reduzido justamente como aparece na peça do autor: curta e objetiva. A letra traz uma visão dicotômica do mundo: o bem x mal, a podridão x a beleza, a crueldade x bondade.
  1. José Joaquim de Campos Leão: Letra composta por Leo Fressato, parte de uma espécie de prólogo da peça de Qorpo Santo “A impossibilidade da santificação; ou a santificação transformada” e funciona como uma apresentação ou mini biografia do dramaturgo.
  2. Lanterna de Fogo I: Letra de Qorpo Santo e Leo Fressato, aborda questões como a homofobia, machismo, preconceito contra a mulher, assuntos tão históricos em nosso país. De 1860 até 2015 pouco progredimos enquanto país, cidadãos e seres humanos, a violência está eminente e cada vez mais.
  3. Mateus e Mateusa: Letra baseada na peça homônima, mostra o descaso e o caráter de três irmãs em relação aos seus pais.
  4. Lanterna de Fogo II: Essa canção fala da falta de integridade e de mau caráter, tão presentes no século XIX quando Qorpo Santo a escreveu, como nos dias de hoje. Para a letra, Leo Fressato transformou falas de personagens do autor em versos.
  5. Eu sou vida, não sou morte: Versão integral da letra de Qorpo Santo, traduzida para o francês. Também discute problemas de índole e ética.
  6. Relações Naturais (Funk Ironia): A composição de Leo Fressato para a letra de Qorpo Santo tem como objetivo ironizar a velha supremacia masculina e religiosa, que subjuga as mulheres por meio da moral e do casamento, como ferramenta de dominação.  
Projeto Z e Qorpo Santo
 
Selo fundado por Nina Rosa Sá, depois de mais de dez anos de carreira trabalhando com outros grupos teatrais, com nome e conceito inspirados na personagem Zelig, de Woody Allen, o Projeto Z surge como um espaço radical de colaboração, em que a pesquisa, assim como o personagem de Woody Allen, absorve as características dos artistas convidados a participar de cada processo, mantendo o conceito de diálogo entre arte, entretenimento e tecnologia. Para Ler aos Trinta foi primeiro espetáculo sob o nome de Projeto Z, apresentado na edição de 2014 do Festival de Curitiba.
 
A proximidade do selo com a obra de Qorpo Santo teve início com a observação da obra do autor gaúcho, que há mais de um século já utilizava elementos que se assemelham ao teatro contemporâneo, como o uso de personagens que se transformam em outras, além da utilização de temas que faziam críticas aos costumes da época e que permanecem atuais. Esse foi o passo inicial para Qorpo Santo – Três Linguagens, no qual Nina buscou ampliar o acesso da obra para o público por meio doteatro, da música e do audiovisual.
 
Qorpo Santo teve sua obra pouco conhecida até os anos 20, quando despertou o interesse de intelectuais gaúchos. Entretanto, suas peças só ganharam montagens em 1966. Com 17 comédias que abordam tabus da época, percorrendo um universo de erotismo e sensualidade e, às vezes, até mesmo com histórias escatológicas, o autor vem aos poucos sendo conhecido pelo público em geral.
 
Rumos 2013-2014
 
Com 17 anos de estrada, o Rumos Itaú Cultural é o principal programa de apoio à produção cultural do Brasil e uma das mais longevas plataformas de incentivo do país. Entrou em 2014 consolidando uma nova fase do seu ciclo de renovação anunciado no ano passado, quando abandou o formato tradicional de patrocínio praticado no país – baseado em regras definidas pela instituição e limitação a áreas de expressão estanques – para apostar em um modelo aberto em que artistas, produtores e pesquisadores definem as regras do jogo com o patrocinador.
 
A comissão multidisciplinar de 19 nomes emblemáticos da cena cultural brasileira, constituída pelo Instituto para se debruçar sobre a revitalização do programa e a análise de 15.120 projetos inscritos no edital de 2013, chegou à lista de 104 trabalhos que recebem apoio do Instituto e no decorrer deste ano começam a lançar as suas produções.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*