Interesse por moda cresce entre mulheres com mais de 50 anos

Mulheres maduras estão cada vez mais presentes nos cursos de pós-graduação, na procura por consultoria de estilo e até nas agências de modelo.

A agência tem um cast de 35 modelos e tem vagas abertas

A moda está caminhando para ser ageless (sem idade) e os novos 50 estão cada dia mais interessados nesse tema. Eles não apenas são consumidores atentos que sabem o que querem, como também tem mostrado interesse em aprender a fazer e a entender a moda. Afinal, eles buscam ressignificar os 50 anos.

Maria Rosa Von Horn tinha o desejo, desde pequena, de ser modelo. Porém, como a maioria das mulheres, fez a trajetória clássica: formou-se em Direito, se casou e teve filhos. Em 2007, prestes a completar 50 anos resolveu concretizar o sonho e foi fazer um curso de passarela – com meninas de 13 anos. Ela conta que não conseguiu nada, foi tachada de maluca e, decepcionada, resolveu escrever para uma revista mostrando o preconceito que sentiu.

A matéria repercutiu tanto que ela acabou dando entrevistas para vários outros veículos de comunicação e recebeu milhares de mensagens de mulheres que a apoiavam: “Elas se sentiam inexistentes, criticavam o mundo restrito da moda e beleza e também a visão preconceituosa da publicidade, que retratava mulheres de 50 anos em anúncios de remédio ou fralda geriátrica”, conta. Mesmo sem um tostão, ela teve o insight de criar sua própria agência, algo que não era comum em 2007. Assim nasceu a FiftyModels, especializada apenas em modelos maduras e na qual Maria Rosa também atua.

Hoje, 12 anos depois, a agência tem clientes como Arthur Caliman, Globe, Natura, Casas Pernambucanas, entre outros. A demanda por modelos aumentou 67% desde a criação da FiftyModels. A agência tem um cast de 35 modelos e tem vagas abertas. Segundo a proprietária, a preferência dos clientes é de mulheres com, no mínimo, 1m70, magras, cabelos longos ou curtinhos, grisalhos ou brancos. “Se tiver olhos claros, melhor. Ou seja, um perfil europeu. Também querem negras, com cabelos brancos, ou mulheres exóticas”, conta.

A agência cobra das modelos uma taxa semestral e algumas, mesmo que não sejam escolhidas para trabalhar, fazem questão de se manter na agência. “Creio que faça bem à autoestima”, comenta Rosa Maria.

Para a empresária, o segmento só tende a aumentar: “Mulheres de 50 anos hoje estão no auge da vida, são ativas, elegantes, antenadas com o mundo e experientes. Representam a melhor fatia consumidora do mercado, pois chegaram ao topo da realização pessoal e profissional”.

Auge da carreira

A consultora de moda Raissa Starosta diz que 25% dos seus clientes estão na faixa dos 50 anos. “E tenho percebido o aumento do interesse desse público por moda”, afirma Raissa. “Antigamente, uma mulher dessa idade era considerada uma senhora. Hoje, ela está no auge da carreira e tem filhos pequenos. Creio que ser mãe mais tarde esteja ajudando a manter a mulher mais jovem”.

Na opinião da profissional, não existe mais roupa para jovem e roupa para senhora. “Se uma garota comprar uma camisa branca, pode ser que a use em uma entrevista de emprego e, depois, dará um nó e a vestirá com shorts. Já uma mulher de 50, irá usar com jeans ou calça social e cinto. A maneira como se usa é o que diferencia, não a idade”.

Usando e criando moda

Para o professor e coordenador da Pós-Graduação em Styling e Imagem de Moda das Faculdades Santa Marcelina Marcio Banfi, os novos 50 estão, sim, mais interessados em moda: “Essas pessoas não querem mais se vestir como ‘velhas’, querem usar as mesmas roupas que pessoas mais jovens usam, sem distinção”. O professor confirma que tem visto um aumento de alunos, nesta faixa etária, nos cursos de moda. “Sem dúvida, há muitos casos de pessoas com 50 anos procurando graduação, pós e cursos de moda. Sinto que aumentou e noto isso nas minhas proximidades”, completa.

Revista para mulheres reais

Depois de folhear revistas femininas, a advogada e empresária Soraya de Miranda Barbosa concluiu que as publicações retratavam uma moda que “não é para jovens nem para maduras”. Foi aí que ela desenvolveu uma revista diferente, para mulheres maduras e reais: “Criei a Senhora Atual para mulheres que estão trabalhando, produzindo e comprando. A revista mostra uma mulher vaidosa, que se cuida, paga suas contas, viaja, usa joias, troca de carro, investe em imóveis. Uma mulher que movimenta um mercado que a ignora e que, ao fazer uma propaganda, coloca uma garota que nem sabe o que está fazendo ali.” No início, ela teve dificuldades em convencer anunciantes que teriam retorno mas que agora, um ano depois, o retorno está sendo maior que o esperado. “Não havia uma publicação como a nossa no Brasil”, finaliza a empresária.

Histórias de personagens

Therezinha Lima Fernandes, 51 anos, advogada e modelo, casada há 30 anos, tem 3 filhos e 4 netos. “Tornei-me modelo aos 50 anos. Consumidora e muito vaidosa, percebi que o mercado de propaganda estava começando a exibir modelos maduros, de vários perfis em seus lançamentos. Eu me interessei e fui pesquisar agências que contratavam modelos acima dos 50 anos. Mandei uma foto, fui agenciada e, para minha surpresa, logo no primeiro mês participei de um editorial de moda. Trabalho minha autoestima, estou de bem com a vida e me agrada a imagem que vejo diante do espelho”.

 

 

Alice Yuka Okuda, 52 anos, empreendedora, divorciada, sem filhos: “Não era modelo. Comecei depois que fui desligada de uma multinacional em 2017, aos 50 anos. Trabalhei na área tributária durante 27 anos, tinha um cargo de gerente, com muitas responsabilidades. Pensei que não tinha muito tempo para aproveitar a vida e que o momento de trabalhar com algo que me desse prazer, ser feliz, mesmo ganhando menos, tinha chegado. Vi um anúncio sobre modelos com mais de 50 anos na internet, pesquisei sobre o assunto e encontrei a Maria Rosa da FiftyModels. Isso mudou minha autoestima. Percebi que depois que sai da zona de conforto e da rotina, consegui desenvolver outras habilidades que nem conhecia. De qualquer forma, acredito que hoje tenha mais chances para pessoas de 50 anos ou mais do que antes. A leitura que estou fazendo, é que esse mercado está pedindo pessoas reais. Começar uma nova atividade, seja como modelo ou qualquer outra coisa que você ame, exige coragem e determinação. As pessoas não podem deixar seus sonhos de lado, têm que acreditar e ir até o fim. Afinal de contas, estamos aqui para viver e ser felizes. Viver é muito mais que existir”, revela.

 

Laura Wie, 52 anos, casada, duas filhas, modelo, empresária, palestrante: Como sempre trabalhei com e gostei de moda, mesmo não sendo mais uma modelo tradicional, continuo envolvida. Fiz uma personagem no teatro, na peça Mademoiselle Chanel, entre 2004 e 2007. Marília Pêra era a Gabrielle Chanel e eu uma modelo da maison. Naquela época, já era apresentadora de televisão, e as matérias diziam: a modelo Laura Wie volta às passarelas pelo teatro. Eu aceito. O fato de manter a mesma forma de me vestir fez com que as pessoas continuem a me ver assim. Sobre mulheres maduras continuarem a trabalhar como modelo, isso sempre foi decisivo tanto na Europa quanto nos EUA. Quando trabalhei na Ford Models em Nova York, há cerca de 25 anos, havia um setor de mulheres maduras. O Brasil demorou para dar espaço para as plus size e negras, mas agora as vemos, o que é positivo, e acho que isso vai englobar as mais maduras também. Meu campo de atuação me permite ter liberdade no vestir. Acho que o importante é ser mais elegante que moderna, não passar por uma mulher madura querendo ser uma garota. Creio que as pessoas maduras acham que não são representadas porque vemos campanhas de moda com jovens. As grifes italianas Dolce & Gabbana e Missoni sempre juntaram gerações em suas campanhas. Tudo que sai da Itália vai para o mundo e incentiva a fazer parecido. Talvez, por aqui não tenhamos chegado a isso, mas estamos perto, pois estamos abarcando todos os tipos físicos e logo todas as idades entrarão nas campanhas também.

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