O relatório é resultado da missão ao Vale do Silício e de outras iniciativas do instituto.
Após uma dezena de visitas às maiores empresas de tecnologia do mundo, universidades e institutos de pesquisa, terminou esta semana a missão empresarial organizada pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP) ao Vale do Silício, na Califórnia. O resultado vai ser consolidado em um relatório que servirá de guia para o empreendedorismo inovador no Brasil. A missão internacional é um dos pontos do programa Novos Paradigmas para a Inovação, patrocinado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e pela Fundação Araucária.
A criação de uma cultura que admite o erro, o fracasso; a desburocratização; a fluida interação entre a universidade e a indústria e a oferta de capital verdadeiramente de risco são alguns dos principais pontos para criar um ambiente de estímulo à inovação no Brasil. “Aqui no Vale do Silício se o empreendedor iniciou uma startup e não deu certo, ganha uma estrelinha no ombro”, brincou Dennis Tsu, diretor executivo do Stanford Research Institute. Ele mesmo criou sete empresas nascentes e só uma teve bons resultados. “Vendi por US$160 milhões”, concluiu.
O instituto que nasceu no ambiente acadêmico hoje é independente e investe anualmente US$500 milhões em pesquisa para inovação. Entre suas criações estão o primeiro protótipo do “mouse” para computador, a impressão jato de tinta, o display de cristal líquido (LCD), usado para telas de televisão e em monitores de computador, e o desenvolvimento do aplicativo “Siri”, acionado por comandos de voz, mais tarde comprado pela Apple.
A imersão no Vale do Silício teve também visitas à Google, às aceleradoras de startups Plug and Play e Sky Deck e às universidades de Stanford e de Berkeley, entre outras organizações. “Nosso principal objetivo é contribuir para a mudança de cultura e para a formulação de políticas públicas que favoreçam a inovação no país”, explica o presidente do Conselho do IBQP, o empresário Rodrigo da Rocha Loures. Atualmente, apenas 2% do empreendedorismo brasileiro podem ser considerados inovadores.
“A missão ao Vale foi um passo importante, mas para a construção do documento final de empreendedorismo de impacto e incentivo à inovação estamos considerando outras iniciativas já realizadas, pelo IBQP e também por outras entidades parceiras”, diz Sandro Vieira, diretor presidente do instituto. Os empreendedores e especialistas voltaram dos Estados Unidos com a compreensão de que nenhum país pode querer ser uma cópia do Vale do Silício, mas precisa encontrar o seu ponto de partida para inovar, a partir de atributos únicos, de seus próprios diferenciais.
Benefício para um bilhão de pessoas
Atrair pessoas talentosas para criar produtos, serviços e programas que possam beneficiar até um bilhão de pessoas no mundo todo é o lema da Singularity University, instalada no campo da Nasa, no Vale do Silício. A universidade, visitada pela missão do IBQP, estudou como o desenvolvimento da tecnologia deixou de ser linear para ser exponencial, nos últimos 50 anos.
A primeira câmera digital foi construída pela Kodak em 1976, era gigante e custaria US$10 mil a unidade, caso tivesse sido produzida na época. Hoje elas existem na maior parte dos celulares e, no ano passado, as câmeras digitais já foram produzidas por US$10. O exemplo foi dado pelo diretor de Relações Estratégicas da Singularity, Amin Toufani.
Ele relatou ainda que em 2010 levavam-se dois dias para gerar cinco bilhões de gigabytes de informação, no mundo. Agora a mesma quantidade é processada em apenas 10 minutos. Esse crescimento exponencial vai mudar o mundo rapidamente, nos próximos anos. “Por isso o que importa é inovação e a tecnologia será a nossa abundância no futuro”, afirma o pesquisador.
A missão empresarial e o programa Novos Paradigmas para a Inovação são apenas algumas das iniciativas do IBQP para promover o empreendedorismo de impacto no Brasil. A entidade, sem fins lucrativos, criada em 1995, trabalha na promoção do desenvolvimento sustentável e já estabeleceu um centro de inovação em sua sede, em Curitiba, onde incuba, oferece mentoria e realiza a pré-aceleração de startups, de várias áreas.
Um dos exemplos é a Fleety, primeira rede de carros compartilhada do Brasil, que será acelerada pela Plug and Play, a partir de março. A empresa norte americana foi responsável pela aceleração da Pay Pal, vendida em 2002 por US$1,5 bilhão.